Milhares de crucificações foram
realizadas pelos antigos romanos. A de Jesus é, de longe, a mais famosa. Do
ponto de vista científico,  essa questão  ainda é como um
quebra-cabeça, com muitas peças desaparecidas.
Quase dois mil anos depois do
surgimento do cristianismo, as igrejas ainda retratam comumente um Jesus magro
e frágil, de barba, pouca roupa, coroa de espinhos e preso a uma cruz pelas
palmas das mãos e peitos dos pés.
Essa
imagem que se popularizou pelos quadros na Idade Média e chegou até os nossos
dias, mesmo trazendo conflitos históricos, afirma Rodrigo Pereira da Silva,
especialista em arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém.
“Acredito
na hipótese de que Jesus tenha sido crucificado sentado, apoiado em uma madeira
que existia na cruz abaixo de seu quadril, com as pernas dobradas para a
direita, nu e sem a coroa de espinhos”, diz Rodrigo, que também é professor do
Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).
Para
Silva, essas conclusões são baseadas, principalmente, em pistas deixadas por
textos bíblicos e na literatura romana. A real posição de Jesus na cruz tem
sido cada vez mais questionada, por conta de obras escritas por especialistas
em religião do Oriente Médio. Essas  obras popularizam a discussão em
torno dessa questão, que já é tratada no meio acadêmico há bastante tempo.
“Os
últimos Dias de Jesus – a Evidência Arqueológica” (Ed. Landscape) é uma dessas
obras, escrita pelo arqueólogo Shimon Gibson, da Universidade da Carolina do
Norte . Ale argumenta que “para prolongar a agonia e o momento da morte, os romanos
posicionavam a vítima em uma espécie de assento de madeira, ou suporte de
forquilha, na metade inferior da cruz”.
O
motivo para isso seria que, sem essa espécie de apoio, o corpo tombaria e assim
uma morte por asfixia ocorreria rapidamente. O objetivo dos romanos era dar à
vítima a possibilidade de respirar melhor e sofresse por mais tempo antes da
morte.
“A
pessoa morre mais lentamente por asfixia dolorosa, porque os músculos do
diafragma vão parando de funcionar até que ela deixe de respirar”, explica John
Dominic Crossan, professor de estudos bíblicos da Universidade DePaul.
Em
seu livro “Em Busca de Jesus” (Ed. Paulinas) esse tipo de assento também é
descrito. O historiador espanhol Joaquín Gonzalez Echegaray, do Instituto
Bíblico e Arqueológico de Jerusalém, em “Arqueología y Evangelios” (Ed. Verbo
Divino), o descreve como um tipo de “conforto”, que tinha um objetivo cruel.
Mas
os detalhes de como os braços e as pernas de Cristo estavam na cruz não são
revelados  pelos evangelistas no Novo Testamento.
“Os
soldados romanos, que teriam o que falar, não tinham interesse. E os
discípulos, que deveriam escrever, não tinham os dados”, resume Pedro Lima
Vasconcellos, professor de pós-graduação de ciências da religião da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo.
Há
o caso de 1968, quando a ossada de um homem que viveu no século I foi
encontrada em Jerusalém. Trata-se da única vítima de crucificação descoberta
por arqueólogos até hoje. A cartilagem próxima aos calcanhares mostrava que
ele sofreu uma perfuração de um prego de aproximadamente 11 cm de comprimento.
Os dois pés foram atravessados por um único prego.
André
Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Novo Testamento se
preocupa mais com a prisão que com a crucificação. “O que ocorreu no meio e
depois são relatos teológicos que
passam pelo exercício da fé”, diz. “Se ele morreu pregado ou amarrado,
estendido ou sentado são detalhes para aumentar ou diminuir a dramaticidade.”
Uma
resposta definitiva parece estar longe de ser encontrada, mas os livros atuais
geram curiosidade no leitor comum e podem mudar a imagem do fundador do
cristianismo em seu momento mais importante. 
Fonte: Gospel Prime  com informações do Jornal
do Pará
 
